Puns. Bufas. Traques. Peidos (ou pêdos, como se diz no meu Alentejo). Todos os produzimos. Todos os soltamos involuntariamente. Porque existe então este estigma contra os puns? Porque não é um pum recebido por um "Santinho", assim como um espirro? Que mal fizeram os puns para serem inferiores aos espirros?
Bem sei. Cheiram mal. Pelo menos na maior parte dos casos. E produzem sons ruidosos, bastante distintos e de uma enorme variedade. Percebo o desconforto causado aos transeuntes próximos, quer olfático, quer eventualmente sonoro. Mas são tão éfemeros…
Inclusive acho que um espirro deveria ser mais olhado de lado do que um pum. Um espirro perdido pode de facto engripar-nos. Um pum, no máximo, enjoa-nos. Mas mesmo nesse caso raro, é um acaso mais temporário do que no caso mais frequente de contaminação alheia. E ninguém fica contaminado de “mau cheiro”.
É verdade, às vezes os puns surgem em espaços fechados ou em situações delicadas, mas nem nós nem eles têm culpa nenhuma. Cheiram mal porque vêem dos intestinos, onde o nosso microbioma faz um trabalho fulcral para a nossa digestão e saúde; e fazem barulho porque as nossas nádegas vibram e o som é uma onda mecânica que se propaga através da vibração do ar, vibração essa que chega por fim aos nossos tímpanos. Compreendo mais facilmente o problema da poluição sonora em determinados contextos (e.g. funeral, um minuto de silêncio) do que o da poluição olfática. E se é normal e compreensível os nossos pares reagirem com um "Ihh que cheiro", menos compreensível é para mim que em seguida não se siga um equivalente a um "Santinho" e uma aceitação de que, pronto, acontece, e seguimos em frente. Em inglês para o santinho diz-se "Bless you". Porque não um "Curse you" irónico para ajudar à comicidade da situação? Em português porque não um "Diabinho" ou um "(Seu grande) sacana!"?
Mais, defendo uma contra-cultura do pum. Uma associação "Libertem o Pum!" ou "Protetores Unidos do Microbioma (PUM)". Onde este seja celebrado. Onde dizer aos amigos "vou (ali) dar um pum" seja não só normal mas que seja também recebido com um "Dá-lhe forte campeão! Mas certifica-te que não vem com molho! Eheh". Não seria bonito, esta validação e até preocupação com o próximo? Não íamos evoluir para uma sociedade utópica depois da pandemia? Será que no Céu não se largam todos também?
Acho que temos uma oportunidade única em mãos, para estarmos na vanguarda da sociedade. Até porque conter puns não faz bem a ninguém. Idem em relação aos espirros, lá está. E claro, peçam desculpa, mas deixem-se largar à vontade. Não é só o pum que é passageiro, a vida também o é e já temos preocupações a mais. Não nos ponham mais esta em cima, se aguento ou não aguento, se é incómodo ou não. Tenho-o dito e tenho-o largado. Só espero é que a minha vizinha no avião não o tenha cheirado.